IRA!

Critica Folha de São Paulo  20.12.17

Ira! desnuda suas canções para devolvê­ las em versões renovadas

Marcelo Rossi/Divulgação

THALES DE MENEZES

DE SÃO PAULO 20/12/2017 02h10

IRA! FOLK (ótimo) ARTISTA Ira! LANÇAMENTO Canal Brasil QUANTO R$ 39 (DVD)

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“Ira! Folk”, projeto de Edgard Scandurra e Nasi, não é simplesmente uma releitura acústica de sucessos da banda paulistana Ira!. Superando uma experiência nostálgica, despe canções populares para mostrá­las direcionadas a uma nova degustação.

A turnê, registrada agora em DVD, pode até ser recebida com estranheza por alguns fãs antigos. A maioria deve gostar, mas as mudanças no material original são gritantes.

Depois de décadas acumulando reconhecimento como um dos grandes guitarristas da música brasileira, Scandurra fez um exercício nada simples ao transformar os riffs que desnuda suas canções para devolvê-las em versões renovadas – 20/12/2017 – Ilustrada – Folha de S.Paulo

gravou para as linhas melódicas das canções.

Dedilhando no violão, dá chance para que todos percebam como as grudentas frases roqueiras que criou vivem muito bem sem o som pesado da guitarra, sem pedais de efeitos. Ali, o dedo passando corda a corda, delicadas harmonias traem a fúria rock and roll, num resultado atraente.

No “Acústico MTV”, de 2004, o Ira! estava ainda com Gaspa no baixo e André Jung na bateria. Ali, os quatro praticamente tiraram os instrumentos da tomada e pronto.

Agora, Scandurra transporta o ar amadurecido de sua fisionomia para o som que tira do violão. Não há pressa nem urgência. Baladas ganham nitidez, e até certa tranquilidade, como “Flores em Você”. E rocks de pulsação rápida, como “Núcleo Base”, ressurgem calmos.

Nada de confundir serenidade com frouxidão. “Dias de Luta” segue contundente. “Mudança de Comportamento” e “Envelheço na Cidade” ainda são hinos adolescentes inquietos, sem perder o viço.

A batida um pouco menos acelerada faz bem a Nasi. Em algumas canções, ele passa a cantar de uma maneira quase declamada, que se encaixa bem em sua voz cada vez mais grave, moldada em anos de excessos variados.

A dupla tem no palco ajuda de Daniel Scandurra no baixo e Johnny Boy Chaves em cordas e teclados. O primeiro é filho de Edgard; o segundo está na banda da carreira solo de Nasi há tempos.

Fernanda Takai canta em “Tolices” e “Telefone”, esta clássico da Gang 90 e Absurdettes que Fernanda fez com o Ira! em 1999, no álbum de covers “Isso É Amor”.

O violonista Yamandu Costa passa emoção no “duelo” com Scandurra em “Dias de Luta”. A canção ganha algo de sonoridade espanhola, espécie de flamenco roqueiro.

Diante de tudo isso, a plateia cumpre o que se espera: assume cumplicidade total com ídolos que acompanha da adolescência efervescente a uma maturidade vigorosa. E todos ficam felizes.

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https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/12/1944649­ira­desnuda­suas­cancoes­para­devolve­las­em­ versoes­renovadas.shtml

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“Acústico MTV”

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/folhatee/fm0706200410.htm

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